quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

em princípio é a Pose

Muito sinceramente, até admito que o jornal Público hoje se tenha divertido um pouco, ao escrever esta prosa, cujas ressonâncias nos levam até aos princípios do século passado . Ou seja, admito que tenha mesmo escolhido este estilo de propósito, para sublinhar, de qualquer forma, uma qualquer coisa, que cada um julgará por si, o que seja.
Mas vamos ao texto. Vou transcrevê-lo na íntegra, não só por ser relativamente curto, mas mais para não estragar o efeito quase encantatório que a prosa provoca.Vamos a isto.
"Foi um dia diferente e mais descontraído o que a chanceler Angela Merkel viveu, anteontem, em Berlim."  (sim que ontem já em estava em Davos, na Suiça, numa estância gelada , mas decerto muito acolhedora, onde decorre o Fórum Económico Mundial...  mas regressemos à prosa. Tinha prometido que não a interrompia... peço desculpa.) "Pelo quinto ano consecutivo, Merkel recebeu associações recreativas de toda a Alemanha, que apresentaram aquilo que serão os festejos de carnaval em cada um dos estados. No gabinete da chanceler ouve-se música, na verdade, diariamente, mas hoje mais do que nunca, brincou Angela ...” (portanto, era mesmo a própria chanceler a falar de si própria na terceira pessoa, como os reis e os futebolistas... Pronto, agora é que não interrompo mais) “Ouviram-se canções de 14 das 15 regiões que marcaram presença na recepção de boas vindas; bem como se dançou para a governante. Merkel recebeu medalhas dos carnavais de todos os estados presentes. Um dos que faltaram foi o da cidade natal da chanceler, lamentou Merkel. Com um sorriso, Merkel recebeu várias prendas, entre elas um ganso de ouro – na verdade de plástico, mas bem dourado - e foi aconselhada a acaricià-lo. Talvez ponha um ovo de ouro, que certamente a senhora Merkel saberá como bem usá-lo – declarou o ofertante, mascarado de príncipe."
E é isto. Na foto, a chanceler afaga, com uma expressão que não se percebe se é de repulsa, ou pretende ser uma expressão de cumplicidade galhofeira com a situação... afaga, dizia eu, o pescoço do ganso de plástico dourado, que ostenta garbosamente uma medalha de uma qualquer ordem honorífica de que se desconhece o patrono... Mas fixemos-nos no mascarado ofertante. Mascarado de príncipe e aqui o cenário ilumina-se. Porque é mesmo para esse universo imperial de reis e príncipes e ademanes e mesuras cortesãs, que estas cerimónias republicanas insistem em nos empurrar... Talvez se pense que, se não for assim com este colorido folclore e reverência, ninguém nos leva a sério, nem respeita... Talvez se pense que o hábito , afinal é que faz o monge... Talvez tenhamos que rever o conceito e passar a reconhecer que, em verdade, no princípio ninguém sabe, mas agora, em princípio é a Pose.

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