o mistério do mundo e da vida

Vem no Jornal de Notícias e diz que a iniciativa partiu da diocese do Porto. Daí que tenha sido o bispo da cidade, Manuel Clemente, quem presidiu ao encontro. E o encontro tinha como tema central a reflexão sobre a arte como transfiguração nestes últimos dias...

Contornemos o tom quase apocalíptico da imagem escolhida – esta , dos últimos dias e avancemos na notícia. 

Diz o jornal que o bispo fez questão de sublinhar o significado da palavra transfigurar – que é o acto de mudar ou alterar profundamente o aspecto, a figura de alguém ou alguma coisa... daí, o bispo Manuel Clemente , avançou para a conclusão de que é importante ouvir a palavra dos artistas, já que a arte, para o bispo do Porto, é um elemento de transfiguração, que pode e deve mudar muita coisa.. Daí o apelo do bispo: os artistas devem trabalhar tendo como objectivo o acto de mudar, de alterar o aspecto das coisas.

Já o secretário da pastoral da cultura, Joaquim Azevedo, lançou a pergunta. Esta: haverá tempo para os artistas revelarem hoje uma outra figuração que não apenas a que vemos na técnica e na reconstrução plástica, mas também a que vemos na relação e na desfiguração humana, sobretudo dos que mais sofrem?...

E aqui chegados, uma coisa ressalta com toda a evidência; tanto o bispo do Porto, como o secretário da pastoral da cultura não subscrevem o conceito de arte pela arte..   para o secretário , a arte deve mesmo servir e intervir de forma directa e intencional na actualidade social e em especial em defesa dos que mais sofrem. 

E em conclusão, o jornal cita ainda Joaquim de Azevedo, secretário da pastoral da cultura da igreja católica portuguesa.. uma vez mais em forma de interrogação... citemos: os artistas desistiram de nos revelar o desconhecido e o mistério do Mundo e da vida? – fim de citação.

E aí é que está se calhar mesmo a verdadeira questão... ou seja, será essa a real vocação ou preocupação disso a que se chama artistas? Revelar o desconhecido e o mistério do mundo e da vida?... ou simplesmente procurá-los eternamente  e maravilhar-se nessa procura, porque ela nunca há-de ter fim, porque atrás de cada nova descoberta, outro mistério se apresenta... 

E depois, sejamos honestos.. que graça tinha isto, se descobríssemos o mistério do mundo e da vida, que graça tinha se todo o desconhecido nos fosse revelado?...

E convenhamos também... os mistérios do mundo e da vida podem ser muito fascinantes para quem não tiver que se preocupar com o onde ir arranjar dinheiro para comprar o almoço.. os tais que mais sofrem e a quem o próprio secretário da pastoral da cultura se refere com genuína preocupação.