quinta-feira, 24 de novembro de 2011

honi soit qui mal y pense

Deixem que comece assim, com um aforismo estrangeirado. Este que diz assim: honi soit qui mal y pense.
Posto isto vamos à noticia.
Vem no "DN" e apresenta-se desta forma singela: "governo acredita que greve geral vai ter forte adesão".
Saudemos a clarividência do governo, que sabe já de antemão o que as  centrais sindicais apenas se atrevem a desejar.. ou seja, a desejar que a paralisação de hoje tenha de facto uma forte adesão popular... uma clarividência que se poderá eventualmente emparelhar com essa outra, que garante que , o mais tardar em 2015, Portugal estará de novo relançado na grande aventura do progresso e da prosperidade.
Mas antes disso, deixem que vos leia o sub título desta notícia: "site do governo divulgará mapa nacional e por ministério da adesão à greve para garantir a veracidade e credibilidade." E chegámos onde queria chegar.. ou seja – honi soit qui mal y pense , que os números publicados no site do governo, quanto à greve geral de hoje, estejam acima de qualquer dúvida, suspeita ou reserva...mais credíveis, portanto, do que todas as outras contas que se façam, seja por quem for... ou, dito por outras palavras, que o site do governo só por si, ou por graça de qualquer entidade subtil, seja um garante incontestado de veracidade e credibilidade... honi soi qui mal y pense... e só por uma razão... ou talvez por duas reunidas numa só... primeiro, que o número real de grevistas é difícil de apurar , muito mais em cima da hora (pode até dar-se o caso de haver quem hoje falte ao trabalho simplesmente porque está com gripe, ou lhe dói qualquer coisa.. pode acontecer) ...e depois porque hoje muitos grevistas foram obrigados a ir trabalhar, porque - ingénuos sim , mas não tanto – muitos sabem que fazer hoje greve, apesar de ser um direito consagrado na Constituição, os pode colocar na lista negra e promovê-los a candidatos ao desemprego na próxima oportunidade...
Porque, mais cruel que o cobrador do fraque que nos persegue, é o medo que se soltou da trela e anda agora por aí, rosnando às pernas de quem passa, como um cão sarnento.

E porque hoje o "Jornal de Notícias" é o único que não traz a greve geral para a primeira página, nem sequer em discreta chamada de capa, vamos a ver se é mesmo porque o jornal resolveu ignorar o assunto por completo, ou se terá sido só por uma opção editorial... abrimos o "JN" e, afinal, logo na página dois aí a temos... Greve geral . A greve geral e o primeiro ministro.
Diz o "JN" que Passos Coelho cumpre hoje um dia normal de trabalho. Enfim, normal, normal mesmo talvez não seja. Será normal dentro do contexto de um país convocado para uma paralisação geral... o que deve fazer alguma diferença, de um país num dia normal de trabalho e mais diferença ainda de um país que se levanta cedo para ir alegremente para o trabalho... E aqui, é mesmo o alegremente que faz toda a diferença. Mas não vamos aqui dar à questão uma importância que se calhar ela não tem... falo da greve geral.
Ainda no "JN": " primeiro ministro reconhece o direito à mobilização, mas não aborda directamente a greve..." e não o faz porque, se calhar, a greve não tem mesmo a importância que alguns renitentes querem que tenha...  O jornal lembra que as declarações de P.P. Coelho surgiram em comentário e resposta ao documento, o manifesto, assinado por um conjunto de personalidades, com Mário Soares à cabeça e onde se retrata e comenta, criticando, a actual situação social e económica de Portugal... Foi nesse contexto que P.P. Coelho, o primeiro ministro, disse que – e citemos: "se reconheço a importância das pessoas se mobilizarem e se exprimirem, também reconheço que aquilo que é bem importante nesta altura para Portugal é encontrar uma saída para a crise."  -fim de citação.
E vamos por aqui. 
É que tudo leva a crer, que a mobilização popular a que o primeiro ministro se refere, pretende, se não me engano, encontrar uma saída para a crise. Uma outra saída, que não passe forçosamente pelo garrote, a que os mercados nos estão obrigando... Quanto ao resto... e o resto é justamente o título da notícia... bom aí... deixem que releia: primeiro ministro reconhece direito à mobilização... ora abóbora!, como se costuma dizer. E se Coelho não reconhecesse, que diferença faria?! Esse é um direito  consagrado na Constituição da República e dispensa a aprovação , ou o reconhecimento de um primeiro ministro, ou seja de quem for.
Portanto, se o primeiro ministro Coelho reconhece ou não o direito à mobilização popular   é - como se costuma dizer -   como o outro.

Sem comentários:

Enviar um comentário