quinta-feira, 8 de março de 2012

Barriga, mãe, há só uma!


Muito provavelmente este é um assunto que deveria preocupar apenas os mais directamente interessados, o que não será o caso da maioria  da população portuguesa em geral, mas já que os jornais lhe dão um destaque tão urgente e foi até matéria e notícia de abertura no telejornal de ontem, à noite na RTP, vamos só referi-lo de passagem.
E tem a ver com o novo operador, que mede as audiências de televisão em Portugal... Enfim, pelo que se percebeu ontem, é em Portugal e não só. Mas vamos aos factos. 
E o mais recente deles todos é que, segundo os novos analistas de audiências, a RTP terá ficado, uma destas tardes e durante quase meia hora, com o nível de audiência reduzido a zero. Uma queda abrupta, de que se reergeu passada a tal mei’horita, como se nada se tivesse passado, com os índices a regressarem aos  valores em que se encontravam antes da avaria, do apagão, se assim se pode dizer.. O próprio operador já reconheceu a falha técnica e responde, contra atacando, que toda esta campanha de suspeição mais não é do que isso mesmo, uma campanha de suspeição.  Diz aliás mais que isso – citando António Salvador, o homem no centro do furacão, como lhe chama o Público... citando então o líder da tal empresa de sondagens – a GFK -  estamos (enfim, está a empresa que dirige) sob um clima de terrorismo puro e duro.
Ontem, o pivot do telejornal da RTP falava em “avaria selectiva”sublinhando que o apagão afectou apenas dois canais da RTP e ainda a BBC e o canal Hollywood, que só passa filmes na televisão por cabo... uma coisa selectiva, portanto... Como quem diz.. isso mesmo: uma coisa selectiva, premeditada, escolhida a dedo.. 
Mas deixemos isso agora e vamos pensar em voz alta. É claro que o problema que realmente preocupa os responsáveis - neste caso da RTP – é a fuga dos anunciantes para outros canais, ao verem que – no caso, a RTP – esteve a falar para o boneco durante meia hora. E sublinhe-se este pormenor.. foi durante meia hora e em jeito de morte súbita.. como se de repente tivesse havido uma espécie de “apagão analógico”, que é uma expressão recente da linguagem televisiva.. como se, de repente, as trevas tivessem caído sobre a RTP.. por maldade, ou castigo dos céus.. Claro que só um lerdo, muito lerdo pode acreditar num tal prodígio... Não que não seja possível, mas pouco provável decerto que é
E aqui chegados, há duas conclusões preocupantes e surpreendentes a reter. Primeiro esta - que o mais poderoso órgão de comunicação social português – a televisão do Estado -  não teve a capacidade de comunicação suficiente para explicar aos anunciantes, que o zero de audiências se explica com uma alegada avaria técnica e que seria coisa muito bem combinada , se de repente toda a gente à mesma hora tivesse mudado de canal.. E deixemos de lado as razões para que alguém o pudesse ter feito ou vir a fazer.
Depois a outra conclusão preocupante, se bem que talvez não tão surpreendente é esta: a fraca inteligência dos empresários que investem – pelo menos,  em publicidade – que possam ter acreditado que a RTP tenha descido aos infernos da impopularidade durante meia hora e que isso seja o alarme suficiente para começarem a fugir e a comprar publicidade noutro sítio...
Ter mais olhos que barriga é coisa pouco recomendável – dizem os antigos, se bem que também aqui seja de crédito duvidoso , o aforismo, já que, olhos, todos temos um par deles.. já quanto à barriga... Barriga, mãe, há só uma.
Entretanto fica esta curiosidade... como terão reagido a esta avaria selectiva o canal Hollywood e a BBC?...

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