segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

E quanto mais burro mais santo.

E hoje, na crónica de opinião, no Diário de Notícias, João César das Neves, professor universitário, faz uma espécie de apologia do Burro. Não de um burro qualquer, mas do Burro do Presépio. 
Acha o professor que o Presépio até podia dispensar a vaca, os pastores, os carneiros, os reis magos... podia até dispensar os próprios Anjos e a figura de S. José, mas o Burro é que não. 
Resumindo, para o professor João César das Neves, no Presépio existem apenas 3 personagens indispensáveis: Maria, Jesus e o Burro.
Fixemo-nos no Burro e vamos ver porque é que ele é mais importante e até indispensável, em detrimento de outras personagens , como a afável vaquinha, os celestiais anjos, os sábios reis magos, os simples pastores e o próprio S. José. 
Porque, para João César das Neves  - "Jesus é o Deus que se faz homem, que muda o sentido do universo, que cria o presépio. Maria é o caminho que Jesus escolheu para vir (estou a ler tal como aqui está) e o burro é o meio de lá chegarem." E assim sendo, segundo César das Neves, sem Jesus não havia presépio; sem Maria, Jesus não tinha nascido e sem o burro , Maria não chegaria ao Presépio
Mas, o Burro... porque é ele tão especial, para além do facto de ter carregado Maria cheia de graça até Belém?... Regressemos ao texto... começa assim: "no céu também há cavalariças – é isso que ensina o burro do presépio – até aqui, ainda não é muito claro porque é que o facto de no céu haver cavalariças faz do Burro um animal tão especial.. vamos em frente. E voltemos ao texto de César das Neves: "Nos palácios do céu estão os grandes apóstolos, os mártires heróicos, pastores atentos, doutores sublimes, virgens puras, santos incomparáveis. Mas lá também há lugar para aqueles de nós que nos limitamos a levar com fidelidade e diligência a carga que nos foi imposta..."  
Bom e se isto não chega para garantir ao Burro um estatuto muito especial , César das Neves acrescenta: "Sem fazer coisas extraordinárias, sem sequer compreender bem o sentido de tudo isto, mas desempenhando todos os dias a tarefa que nos está atribuída." Ora e posto isto, conclui o professor César das Neves que  é normal que no fim não tenhamos lugar nas mansões do Céu; mas até lá ( no Céu, subentende-se ) as cocheiras são maravilhosas. E quereis saber porquê? O professor explica: "Porque no Céu os currais são presépio." 
De saída fiquemos com uma ressalva, que talvez seja importante para nos ajudar a perceber o ponto de vista do professor.  E a ressalva apresenta-se em forma de pergunta. Pergunta o professor César das Neves: "quer isto dizer que qualquer asno entra no céu? Afinal também lá chegam vozes de burro?" E responde: "Não. Não basta ser um bom jerico para chegar ao céu. Claro que é preciso ser um jumento de qualidade, o que não é fácil..." E não é fácil porque, segundo César das Neves e no seguimento desta parábola asinina... "um bom burro é aquele que leva o que for preciso e leva-o todos os dias. Carrega tudo que tiver de ser, sem discutir, sem  resmungar, sem pedir descanso,contentando-se com a ração."E como a conversa já vai longa, remato-a com a legenda que o jornal escolheu para resumir a matéria. Diz assim: esta é a grandeza do burro do presépio, uma das mais notáveis  da história da salvação. 



Posto isto, 
caguemos no Burro



E vamos antes ouvir  o que disse o cardeal patriarca de Lisboa na mensagem de Natal deste ano.
O DN avisa que não só o cardeal José Policarpo, mas todos os bispos portugueses sublinharam e chamaram a atenção para as dificuldades a que os portugueses estão e vão ser submetidos nos próximos tempos, mas – sublinha o jornal - o cardeal patriarca de Lisboa foi mais longe  ao aprofundar a questão da crise.
Entremos pela frase, que o jornal escolheu para começar a contar a história -  "Os momentos difíceis servem para uma purificação da sociedade" E assim falou o cardeal patriarca de Lisboa, na Missa do Galo deste ano... Depois, terá exortado os portugueses a olharem para este momento de sofrimento colectivo que o país atravessa de uma forma positiva e optimista, porque essas provações purificam.
D. Policarpo – acrescenta entretanto o DN - pediu ainda uma ordem económica que acentue o bem comum. Já quanto ao sofrimento, a crise, o desemprego, o aumento da pobreza... diz o jornal que o cardeal se socorreu do exemplo de Cristo. 
Citemos: Jesus ensina-nos a não nos assustarmos com o sofrimento, mas enfrentá-lo com coragem e generosidade...  subentende-se : com a coragem e generosidade que Jesus demonstrou em vida.   Uma coragem e generosidade que – é histórico – teve um final um pouco – digamos assim - complicado para o próprio.
Enfim, esperemos que o exemplo citado pelo cardeal de Lisboa se fique só mesmo por aí... pela  coragem e generosidade que a vida de Cristo representa, já que, quanto ao desfecho histórico do exemplo citado, estou em crer que o povo português talvez ainda não esteja preparado para tanto.

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