sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ambrósio, apetecia-me algo!


Eu bem desconfiei que a coisa tinha uma explicação qualquer que nos estava a escapar.. Falo do parecer da OCDE, quanto aos salários praticados em Portugal na Função Pública...
Na chamada de capa do Público de hoje destaca-se a passagem em que a Organização sublinha a sua oposição ao corte de salários na função pública em Portugal – citando: OCDE é contra mais cortes nos salários da Função Pública... já o sublinhado do DN afirma que a OCDE diz que os funcionários públicos em Portugal ganham demais...
O paradoxo, não vai sem resposta.  Abrimos o Diário de Notícias em busca da chave que abra o cofre deste mistério.. e ela cá está.. brilhante!
Salários subiram demais nas qualificações mais baixas – é o que diz este outro título que lança a notícia, já em desenvolvimento...    Afinal, os ordenados da função pública que, segundo esta nova versão , terão subido demais,foram os das qualificações mais baixas.. diz que sim. 
Aliás o sub título até explica melhor... diz que a OCDE quer harmonizar o sector público com o privado e que, assim sendo, os peritos do Estado devem ganhar mais e os não peritos menos.
Isto, claro está, em nome da concorrência com o sector privado.
Ora e até faz sentido, de certa forma, cruel, mas se calhar justa. Que os mais qualificados, ou os "peritos" ganhem mais que os não qualificados.
Acontece que temos entretanto aqui um outro problema: Avaliar a aptidão profissional de cada um.
Consegue-se com a avaliação do trabalho produzido...  ou então vai-se pelas habilitações profissionais e académicas do candidato... naturalmente um licenciado, ou doutorado em qualquer matéria específica terá mais capacidades e conhecimentos e poderá suportar responsabilidades mais responsáveis (perdoe-se a redundância, que foi de propósito...  ) enfim , merecerá um ordenado à altura das responsabilidades... o problema é que- como a actualidade demonstrou já.. isto de doutores e engenheiros, em Portugal e em certos e picarescos casos,  pelo menos.. é mais uma forma elegante de tratamento, do que realmente uma qualificação académica ou profissional, se bem que, seja como for.. vá servindo.

Mas, seja como for, também, parece  óbvio que uma simples licenciatura, mesmo uma licenciatura a sério, não garante à partida a qualidade profissional de ninguém... mas ficou-se também a saber que aumentar o ordenado aos  profissionais de "topo" – ou aos mais qualificados, mais "peritos", se justifica para que eles não fujam (perdoe-se a expressão) não prefiram, vá, ir trabalhar para o privado, onde podem ganhar mais.. Diz a OCDE que em contrapartida se deve baixar o ordenado aos menos qualificados..

Bom e nessa lógica de raciocínio o Estado corre o risco de perder esses trabalhadores, que podem , eles também, preferir ir trabalhar para o privado.. e se isso acontecesse.. se todos os menos qualificados, os menos "peritos", se transferissem para o sector privado.. os mais qualificados da função pública  iam mandar em quem?...  – num cenário desses, e perdoe-se uma vez mais a expressão, mas num cenário desses, quem faria o trabalho sujo? Quem me fazia duas fotocópias? Quem me traz um cafèzinho?

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