Hoje temos em manchete mais uma
notícia de demissões no governo.
O Correio da Manhã, por exemplo,
fala em escândalo e em prejuízos de mais de 800 milhões de euros para o erário
público..
Já o Público, o jornal, escreve
em manchete que “financiamentos de risco na Metro do Porto provocam
remodelação…” sendo os remodelados, os secretários de Estado, braga lino e
justino peneda, que terão negociado contractos de risco, que levaram a perdas
globais, nas empresas públicas, que chegam aos 3 mil milhões de euros. O jornal
acrescenta que há mais dois membros do actual governo envolvidos nestes
negócios ruinosos…
Mas nem era disto que vos queria
falar, mas antes desta outra notícia, que merece chamada de capa na edição do
Público desta segunda feira e que se anuncia desta forma: “Governo abandona
projecto.” Logo a seguir explica-se qual projecto… o de redigir e publicar para
que se cumpra o Código de Ética para a Administração Pública.. é esse , o que o
Público diz que vai ficar na gaveta.
Agora, se saltarmos para a
página 8 do jornal temos estoutro título, que é ainda mais esclarecedor –
“código de ética para administração pública nunca passou das intenções.” Já o
sub título lembra que o provedor de Justiça sublinha o facto da publicação de
normas de conduta aplicáveis a todos os agentes públicos ser uma obrigação do
Estado desde 2007 e que decorre da Convenção contra a Corrupção da ONU.
Bom, honi soit qui mal y pense,
que a notícia dos negócios ruinosos, de que atrás se falou, não nos remete
directamente para um caso de corrupção, naturalmente que não, pelo menos à
partida, só talvez, eventualmente um caso de pouca sorte nos negócios, ou um
caso de se ter apostado no cavalo errado, ou até mesmo de ter sido enganado..
enfim, só um caso de pouca sorte, ou de incompetência…
Mas voltemos ao código de ética
que vai ficar na gaveta, porque, segundo o jornal Público , nunca houve
intenção de o tirar de lá, ou dar-lhe corpo e força de lei…
Deixem-me então que leia um par
de frases soltas nesta notícia do Público.. por exemplo esta: “código
estipulando valor máximo de 150 euros para ofertas de bens e serviços aos
funcionários nunca foi aprovado.” Ou então esta outra: “líder do PSD anunciou
um código de ética para todos os políticos, o do PS visava apenas o seu
partido”; sendo que, em ambos os casos, a intenção se ficou por aí… E ainda
mais uma frase solta: “a ministra da Justiça chegou a anunciar em Fevereiro de
2012 que o código iria a conselho de ministros na semana seguinte.” Sem grande
esforço concluímos que, de Fevereiro de 2012 até hoje, já passou mais de um
ano…
Mas… e agora, recuando dois
passos, para ver melhor, o que temos? Temos a necessidade de elaborar um código
de ética…uma espécie de manual de instruções para meninos mal comportados, que
garanta uma certa correção na actividade dos agentes da coisa pública… o que já
só por si soa estranho… e até pouco lisonjeiro para os destinatários da
encomenda… depois temos esta notícia, onde se lê que o projecto nunca saíu da
gaveta e alegadamente porque nunca foi essa a intenção… a de o fazer ver a luz
do dia…
A explicação agradável para isso
seria naturalmente concluir-se que em Portugal não faz falta um código de
ética, ou de boas práticas, como se diz, para a administração pública.. e isso
seria então uma boa notícia, apesar de ir contra as directivas da ONU… mas tudo
leva a crer que não será bem assim… o que acaba por ser irónico.. o próprio
Estado , ao protelar, ou deixar mesmo esquecido numa qualquer gaveta este código
de ética.. dá ideia que está já, ele próprio, a violá-lo – ao código, claro, se
bem que… como se pode violar uma coisa que não existe?!.. Não; eu bem
desconfiava… governar um país, por mais pequenitote que seja, não deve ser pera
doce…
E, entretanto, temos esta breve
notícia, que desce da Alemanha e cita o ministro alemão das finanças, Wolfgang
Schäuble, que disse ontem , durante a assembleia da primavera do FMI e do Banco
Mundial que… oiçamos, então: “ninguém deve cometer o erro de acreditar que
existe uma alternativa à redução dos défices. Não é uma posição alemã, é uma
posição comum." Sendo que aqui a questão nem será tanto essa, a de reduzir
os défices, mas antes a forma como alguns o pretendem fazer…Posto isto, deixem
que recupere rapidamente a história de que há pouco vos dei conta e que falava
da demissão de dois secretários de Estado, por alegadamente serem os
responsáveis pela perda de quase mil milhões de euros em negócios envolvendo os
transportes públicos do Porto.. Hoje o Diário de Notícias, a propósito disso
mesmo, escreve este título : “auditoria das Finanças faz vítimas no Governo” –
aqui, haveria naturalmente de definir e explicar o significado da palavra:
“vítima”...Sigamos entretanto até às páginas do Jornal de Notícias .“Crise na
Académica desculpa corrupção do presidente…” O presidente de que se fala
chama-se José Eduardo Simões e foi condenado a 6 anos de prisão por corrupção,
na gestão das contas do clube dos estudantes – a briosa Académica de
Coimbra… Agora a questão da desculpa. Diz o JN que o tribunal decidiu
comutar a pena de 6 anos de prisão efetiva por outra de 15 meses de pena
suspensa... e isto porque, segundo o tribunal, o arguido nunca beneficiou
pessoalmente do crime de que ia acusado. Enfim, há o caso de um cheque de 5 mil
euros que foi para lhe financiar a própria campanha eleitoral, para a direcção
da Associação Académica... mas tirando isso, diz o tribunal que todo o dinheiro
foi encaminhado para ajudar a associação, que estava com sérias dificuldades financeiras..
ou seja, como se explica logo no primeiro parágrafo: “o Supremo Tribunal de
Justiça desculpou , em boa medida, os actos corruptos do presidente da
Académica, por terem sido praticados em benefício do clube e quando este
enfrentava dificuldades financeiras.” Agora… temos aqui mais uma questão
semântica para resolver… que não já a definição da palavra Vítima.. neste caso
é a palavra Corrupção.Corrupção, ou roubo.. eis a questão. E digo isto porque ,
ainda no mesmo JN lemos, em letra gorda, que cada vez se rouba mais comida para
matar a fome. Nos supermercados - conta o jornal – os ladrões chegam a consumir
logo ali, nos corredores da loja, os produtos que acabaram de roubar… Outros,
quando apanhados, chegam a responder com insultos aos empregados. O jornal diz
também que nalguns casos são só garrafas de vinho ou bebidas destiladas, o que
é roubado; donde se poder concluir que não será só a fome, o que move estas
pessoas… Mas enfim, pãozinho p’rà boca, ou vinho para enganar a fome e
adormecer a consciência… acaba por ir dar quase ao mesmo. Não houve já quem
defendesse que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses?..
Ficou-se sem saber se era por causa do incentivo económico à indústria
vitivinícola, ou só mesmo porque o vinho, no seu correcto exagero, engana muito
bem a fome…. E agora já é tarde para o descobrirmos, porque quem dizia isto, já
morreu.
Sem comentários:
Enviar um comentário